terça-feira, 18 de março de 2014

Uma brevíssima e definitiva definição do sorriso

O sorriso é, e nada mais é que, a massa corrida que esconde os buracos, as dores e as feridas incuráveis do nosso coração.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Limites

-Sinceramente, não concordo com o que está fazendo.
-Deixe eu e minhas licenças poéticas, façavor! 

quarta-feira, 12 de março de 2014

Missão? Mas que missão?

Morreu.
Paft puft! Assim de uma hora para outra.
Ficou para trás o horário marcado para o cabeleireiro, aquele relatório complicado que o chefe cobrava a semanas e aquela reunião insuportável das Vigilantes do Peso.
Acabou. The end.
Nas portas do dito "céu", achava-se Deus. Imponente e bonitão, ele recebia seus filhos.
A recém-chegada toma coragem e puxa assunto com O Homem:
-Senhor, posso lhe fazer uma pergunta? 
-Pois faça!
-Sempre me disseram que em minha vida existia uma missão que o Senhor havia me reservado para cumprir. E agora morri assim de uma hora para outra e nem sei se a conclui. O que realmente era?
-Crianças, vocês são tão tolinhas! Complicam tudo, inclusive o que eu deixei assim tão facilzinho, molezinho, aguinha com açúcar. Não há missão alguma! Dei vida para vocês, dei uma casa bonita para morarem, ar em seus pulmões e a fé para confiarem... para quê? VIVEREM! Mas como pai, digo decepcionado que a maioria de vocês só existiu e não viveu. Uma pena.. uma pena...

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Fugas

Diante da dor ele segurou a corda.
Ela segurou outro amor.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O fundo do copo, da garrafa, do barril...

A regra é clara: não  é permitido contar quantas rodadas se permite.
"Pode mandar" ele grita, e o copo se enche novamente. 
O que ele bebeu, muito alcoólatra não o fez, é verdade, dizem por aí.
É  louvado por aqueles que o cercam.
"Inconsequente e louco!" gritam os irmãos de bebedeira.
Mas naquela selvageria toda sem sentido, muitos não ouvem, o silencioso sentido que martela na mente dele.
Um sentido ininterrupto tão baixinho que por vezes nem ele ouve.
Ele busca o fundo do copo. Não o do poço como é comum por aí, mas o do copo mesmo. Procura a embriaguez que os tempos áureos lhe haviam dado e ele não encontrava mais por essas bandas.
No fundo de cada garrafa ele procura a loucura que bebida nenhuma traz. Loucura essa que era o torpor que sentia quando via o sorriso daquela moça. Sorriso sem moderação, sem contradição, sem outra opção. 
E as brigas que a cachaça traz em suas ensandecidas consequências e as porradas em sua mandíbula deslocada não doem a metade que seu coração manchado sofre.
Perde-se o punhado de dinheiro nos bolsos, perde-se a dignidade, perde-se as ilusões. Só não perde-se a vontade de voltar atrás, arrumar os desarranjos, reviver aquela época mansa que o amansava. 
Ah, aqueles tempos, que o leão dopava-se ao ver aquele par de panturrilhas saltitarem nuas pelos corredores. E os cabelos despenteados dela escorriam pelo seu rosto amargo e enchiam de doçura a sua alma.
Bebe para esquecer os bons tempos, para aceitar a realidade. 
"Saúde!" ele grita. E assim mais um punhado de álcool, essa bebida tão ingrata, desce sua garganta amargurada. 




quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Era uma vez... fim.


Acontece que o sol levanta-se e poe-se igual como todos os dias. As pessoas seguem suas rotinas maçantes e o passa-passa de carros na avenida permanece inalterado. No rádio tocam as mesmas músicas e a previsão do tempo indica o mesmo calor infernal de sempre. 
As manifestações não pararam, os noticiários ainda fervem. Os bares ainda lotam, as igrejas ainda oram. 
O mundo ainda gira ininterruptamente. Sim? Não. Não? Não, para mim.
Desde aquela manhã chuvosa, fria e cinza de novembro tudo parou. Meu filme particular permanece parado. PAUSA. Pausa mesmo? PAUSA!

Enterrei outrem, só não encontrei onde posso enterrar esses papéis velhos que enchem minha mesa. Outros planos, outros arranjos e desarranjos. Foi um "era uma vez" tão rápido. Será um "fim" tão eterno.
Cadê aquele colorido estranho e inovador? 
Continuem, não quero saber, vou ficar para trás. 
Desculpa mundo, estou monocromática. E fim. 


terça-feira, 1 de outubro de 2013

Falso Luto


-Estamos aqui reunidos... -iniciou o padre a missa fúnebre. 

E ali, enquanto o sermão divino começava, o corpo sem vida daquela que para tantos outrora parecia ter tanta vida, jazia.

Era uma cena comovente: uma quantidade de lágrimas consideráveis. Se alguém passasse ali na frente da funerária e observasse aquela choradeira diria que era uma pessoa muito amada. Mas não era. 
Baldes de lágrimas e toneladas de lenços que estavam sendo utilizados naquele dia, indicavam o quanto ela faria falta nesse mundão de Deus. Mas não faria.

E a choradeira seguiu assim:


"Era uma filha maravilhosa" disseram os pais que levantavam todo dia pela manhã e sequer perguntavam se a garota precisava de um abraço;

"Era muito companheira e melhor amiga em todas as horas" disseram alguns 'amigos' que nunca iam visitá-la, mesmo quando ela dizia que estava mal;
"Era o amor da minha vida" disse o noivo que a traiu uma centena de vezes;
"Era uma excelente aluna com talento admirável" disse a professora que deu notas baixas para a garota por pura birra;
"Era um exemplo para nós" disseram os irmãos que por tantas vezes a tratavam com desprezo.
"Era muito humana e responsável" disse o chefe que menosprezou o pedido de aumento da moça, mesmo sabendo que ela precisava;
"Era muito alegre" disseram os colegas de trabalho que por tantas vezes passavam por ela sem ao menos dizer bom dia;
"Era uma moça tão bonita" disseram os colegas de faculdade que viviam tirado sarro do seu cabelo;

...


Na porta da funerária, a alma da moça observava aquele velório de forma impassível. Olhou para o céu e agradeceu a Deus por aquele caminhão ter passado por cima dela.

-Desse mundo eu não estou perdendo nada.
E caminhou satisfeita para a luz que tantos tem medo de olhar em seus momentos finais.