sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O fundo do copo, da garrafa, do barril...

A regra é clara: não  é permitido contar quantas rodadas se permite.
"Pode mandar" ele grita, e o copo se enche novamente. 
O que ele bebeu, muito alcoólatra não o fez, é verdade, dizem por aí.
É  louvado por aqueles que o cercam.
"Inconsequente e louco!" gritam os irmãos de bebedeira.
Mas naquela selvageria toda sem sentido, muitos não ouvem, o silencioso sentido que martela na mente dele.
Um sentido ininterrupto tão baixinho que por vezes nem ele ouve.
Ele busca o fundo do copo. Não o do poço como é comum por aí, mas o do copo mesmo. Procura a embriaguez que os tempos áureos lhe haviam dado e ele não encontrava mais por essas bandas.
No fundo de cada garrafa ele procura a loucura que bebida nenhuma traz. Loucura essa que era o torpor que sentia quando via o sorriso daquela moça. Sorriso sem moderação, sem contradição, sem outra opção. 
E as brigas que a cachaça traz em suas ensandecidas consequências e as porradas em sua mandíbula deslocada não doem a metade que seu coração manchado sofre.
Perde-se o punhado de dinheiro nos bolsos, perde-se a dignidade, perde-se as ilusões. Só não perde-se a vontade de voltar atrás, arrumar os desarranjos, reviver aquela época mansa que o amansava. 
Ah, aqueles tempos, que o leão dopava-se ao ver aquele par de panturrilhas saltitarem nuas pelos corredores. E os cabelos despenteados dela escorriam pelo seu rosto amargo e enchiam de doçura a sua alma.
Bebe para esquecer os bons tempos, para aceitar a realidade. 
"Saúde!" ele grita. E assim mais um punhado de álcool, essa bebida tão ingrata, desce sua garganta amargurada. 




1 comentários:

http://blogdonemesis.blogspot.com.br/ disse...

O tempo perdido medido em garrafas vazias.
Tim-tim, o tempo bebido não volta jamais.
Uma pena...
Siga escrevendo Magrella!